Poderia ter sido apenas mais uma demissão injusta em que a gente se sente triste pelo colega, comenta o assunto no café e esquece no passar da semana, mas Nilson era diferente, era comprometido, era amigo de todos. Havia sido vice-presidente da CIPA, o mais votado, que não faltava as reuniões e sempre levava comentários importantes pensando na segurança de seus colegas de manutenção.
Num janeiro quente, uma guerrinha de bolinhas de pão no refeitório, dessas que animam a vida de peão, mudou o destino do Nilson exemplar. Ele falava que a brincadeira não era boa ideia, poderia dar problema, melhor não participar: "Coisas assim acabam chegando mal na administração". E assim foi, advertido injustamente, se recusou a assinar a advertência do ato que não praticara, resultado: demissão. Vinte anos de trabalho exemplar terminados por uma fofoca sem qualquer investigação. Nilson que era contra a brincadeira pagou por quem brincou.
Os colegas, os que brincaram e os que não, ficaram preocupados. Quem mais seria dispensado? Como partir para o trabalho com a angústia da opressão. No papo do cafezinho, nenhum açúcar adoçava e a impotência doía como doía a culpa de quem brincou, sem imaginar o triste resultado.
O que fazer quando somos paralisados pela angústia, impotência e frustração? Com o café ainda amargo, nos reunimos na oficina de manutenção, tiramos essa foto e gravamos no celular a nossa solidariedade para Nilson. A gravação foi pouco, então pegamos uma agenda do ano, já que ainda era janeiro e passamos pelas seções buscando palavras de gentileza. Todos registraram a amizade, o apoio, a gratidão. Nilson era querido por todos. Produção, restaurante, laboratório, escritório, ambulatório, almoxarifado, não houve setor por onde a agenda não passasse e em pouco tempo estava completa de força e motivação. Colamos a foto na agenda e entregamos a ele, fazendo nossa solidariedade ajudar a atravessar o difícil momento. Naquele janeiro, na oficina de manutenção, lembramos que em momentos de injustiça, a gentileza pode chegar onde a nossa força é pequena para lutar.
Adelia Di Buriasco
A Gentileza pode ser a força que falta em muitas empresas.
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Abraços