De volta ao paraíso

 

De volta ao paraíso em dia de lua cheia, após nove anos distante. Minhas raízes com Petrópolis foram cortadas com a morte de mamãe e como professores têm emprego em qualquer lugar, apesar de dar aulas de Matemática e Inglês, foi a Geografia que influenciou minha escolha. Cabo Frio, apesar do nome, não tem inverno frio. E o constante vento nordeste ameniza o calor do verão. 

A experiência de ter morado aqui antes me influenciou a buscar sete requisitos.

1. Que fosse num sobrado com janela para o vento nordeste. Quem mora no sobrado não sofre com baratas, pernilongos e calor. Se tiver uma varanda com sol e privacidade... nota mil.

2. Que não exigisse carro. Quem opta pelo minimalismo precisa ser prático. Estar a cinco minutos do comércio é fundamental. Se tiver uma boa pastelaria por perto, açaí e peixe, melhor ainda.

3. Que não fosse em bairro de turismo. Quem mora em cidade de turismo, sabe que nos bairros de nativos não há fila na padaria, não falta água, não falta vaga para estacionar e não tem congestionamento na alta temporada.

4. Que fosse perto da praia. Quem escolhe a praia quer morar perto dela. Eu queria um lugar em que minhas caminhadas diárias fossem com os pés molhados pela água salgada.

5. Que não tivesse que pagar condomínio. Professor consegue emprego em qualquer lugar, mas... tem salário de professor. Não pagar condomínio é uma grande vantagem, mas morando sozinha, o sexto requisito é fundamental.

6. Que fosse seguro. É muito comum em Cabo Frio, moradores dividirem o próprio terreno para  construir quitinetes e dessa maneira, gerar renda com aluguel, já que a temporada sempre movimenta a cidade. Queria alugar uma quitinete assim, sabendo que me sentiria protegida pelos demais moradores.

7. Que a vizinhança fosse tranquila.

A expressão "quem tem amigo não precisa de dinheiro" funcionou muito bem para mim. Fiz contato com amigos de meus tempos da fábrica do Sal Cisne e na mesma hora recebi de Adriano a indicação de uma quitinete que tinha todos os requisitos que eu procurava. Mais do que isso, Valmir, o administrador prontamente me cedeu o excelente sinal de internet e a escrivaninha que uso agora enquanto escrevo.

Moro perto de pastelaria, peixaria, mercados, açaí. Aqui nada tem preço alto pra turista. É bairro para locais. O dono do bazar da esquina me empresta a furadeira quando preciso. Tenho vizinhos eletricistas, pintores e pescadores. Amo peixe, mas compro muito pouco porque sempre ganho - peixe limpo e camarão. 

Mal cheguei, consegui trabalho em um curso profissionalizante. Dez dias depois a quarentena de Covid fechou tudo. Continuei com as aulas online, fiz novos amigos no curso, revi amigos dos tempos do sal. Enfim, quando a gente sabe o que quer e tem amigos, as portas se abrem. Para mim, abre-se também a janela virada para o nordeste que mantem minha casa clara, arejada, feliz.


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